2.11.06


Educação antes que Instrução

Compete à educação, indubitavelmente, o mais relevante papel no concerto da civilização. Nada obstante, os nossos sistemas pedagógicos não têm correspondido às suas legítimas finalidades. A despeito das grandes virtudes de que são portadores, trazem eles no esquema de sua herança os germes daquele nefasto intelectualismo, filho dileto das escolas materialistas dos últimos séculos.
As modernas diretrizes educativas não puderam subtrair-se à inveterada tendência de conferir primazia às faculdades mentais. A julgar pelo conteúdo dos programas oficiais de ensino, os valores do sentimento continuam relegados a plano secundário, como se realmente o cérebro, que elabora a teoria, devesse viver divorciado do coração, que inspira a prática. Pertence à história de todos os povos civilizados a experiência dos males decorrentes desse injustificável separatismo: destrutiva e má é a inteligência sem o sentimento, perniciosa e vã é a cultura sem amor.
As cruentas provações por que temos passado não bastaram a modificar nossa orientação pedagógica. A prova está em que, no período mais fecundo de nosso aprendizado – o que vai da infância à juventude - quando máximas são as nossas capacidades aquisitivas, tudo se tem feito por dotar-nos da maior soma de valores intelectuais, mas pouco ou nada se tem feito por demonstrar-nos, praticamente, a melhor forma de aplica-los. Somos, assim, reduzidos à condição do rico avarento que, por muito haver acumulado, nada mais fez que aumentar suas preocupações e multiplicar sua miséria.
De que nos tem valido, com efeito, saber corretamente a conjugação do verbo amar se não temos sabido amar o nosso próximo? Para que nos tem servido aprender a operação de dividir, se não temos aprendido a dividir com os que sofrem um pouco sequer de nossa felicidade?
Sabemos que a gramática tem suas regras e a matemática, suas leis, mas, o que de ordinário olvidamos é que esta e aquela nada valem sem as regras e as leis do amor. Teoricamente, sabemos conjugar o verbo amar e efetuar a operação de dividir, mas, praticamente, só temos sabido odiar e subtrair. Conhecemos a pequena irregularidade gramatical do verbo odiar e, no entanto, obstinamo-nos em desconhecer sua grande irregularidade moral. Compreendemos perfeitamente que a divisão, segundo as leis da matemática, é uma subtração sucessiva, mas o que ainda não compreendemos é que a divisão, segundo as leis do amor, é uma autêntica multiplicação de bens.

Professor Rubens Romanelli
Livro: O Primado do Espírito,
Editora Síntese, 1975.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Maisa,
Adorei o blog. Concordo com a opinião de Romanelli. A educação tem importante papel no desenvolvimento da humanidade. No entanto, o que ainda nos falta é privilegiar o amor. Nos preocupamos com métodos e técnicas que dissociados da solidariedade não terão êxito. Ensinar conteúdos não é tudo. Eles precisam estar vinculados à experiência social e espiritual para que ocorram mudanças significativas no mundo. Bjs. Ana Paula Fernandes - Cataguases/MG